Uma biblioteca de Rolling Stones
Uma relação de livros básicos sobre a banda de Jagger e Richards
Nunca fiz conta na ponta do lápis, mas a memória me sugere que existem menos livros sobre os Rolling Stones que sobre Beatles, Bob Dylan e Elvis Presley. Mesmo assim, são muitos.
Para quem não é um fanático completista, cai bem saber o que vale a pena ler. Assim, fiz uma lista do que se destaca entre as obras sobre a banda de Mick Jagger e Keith Richards.
*História da banda
Meu favorito com uma história da banda é Old Gods Almost Dead: The 40-Year Odyssey of the Rolling Stones, de Stephen Davis (autor da mais notória bio do Led Zeppelin, Hammer of the Gods), publicado em 2001.
Sim, os Stones continuam existindo 23 anos depois, mas o que vale a pena dos anos de glória está ali em Old Gods Almost Dead.
Já o favorito de Keith Richards (pelo menos é o que diz uma frase dele na capa da reedição de 2014) é As Verdadeiras Aventuras dos Rolling Stones, de Stanley Booth, finalmente editado no Brasil em 2023 pela Belas Letras.
"O livro de Stanley Booth é o único que leio e posso dizer: 'É, foi desse jeito", declarou Keith.
Essa edição de 2014 comemorou o 30º aniversário da publicação do livro original, que tinha outro título (Dance with the Devil: The Rolling Stones and Their Times). E contou com um novo prefácio de Greil Marcus, o mestre dos críticos de rock americanos.
O Sol & A Lua & Os Rolling Stones: Uma Biografia, de Rich Cohen, foi publicado no Brasil em 2017 pela Zahar.
E a mais recente empreitada ambiciosa de contar tudo sobre uma banda que existe há seis décadas é The Stone Age: Sixty Years of The Rolling Stones, de Lesley-Ann Jones, publicada em 2022.
*Keith
Vida, a autobiografia de Keith Richards publicada no Brasil em 2010 (mesmo ano da edição original em inglês) pela Globo Livros, é insuperável. Mesmo após tantos anos de estrada rodeado por muita coisa do show business que deixa alguém cascudo, Keith ainda guarda alguma sinceridade e espontaneidade ao falar dos Stones e de sua vida.
Essas qualidades parecem inalcançáveis por seu parceiro Mick Jagger, rei das platitudes e liso como um quiabo em qualquer entrevista.
*Jagger
Philip Norman é um biógrafo serial da "realeza" do rock há décadas, mas bem competente em seus textos. Em 2012, ele desbravou os detalhes da vida de Mick Jagger no livro singelamente batizado como Mick Jagger, publicado no Brasil pela Companhia das Letras.
Vale citar que a bio do cantor não foi a primeira experiência de Norman com a banda. Em 1984, ele publicou uma história dos Rolling Stones, Symphony for the Devil, atualmente disponível com o título The Stones: The Acclaimed Biography.
*Wyman
Baixista dos Stones de 1962 a 1993, Bill Wyman era reconhecido como o enciclopedista do grupo, sempre anotando e arquivando datas de turnês e gravações, além de anedotas que aconteciam com o quinteto.
Por isso, sua autobiografia Stone Alone, escrita em colaboração com Bill Coleman e publicada originalmente em 1990, é saborosa para saber de bastidores dos Stones. Wyman apenas exagera às vezes ao se vangloriar de proezas com as tietes.
*Charlie
Semanas antes de morrer, o baterista Charlie Watts (1941-2021) foi agraciado com a publicação de uma obra que defende ferrenhamente que os Stones não seriam os mesmos se ele não estivesse atrás dos tambores e pratos. Sympathy for the Drummer: Why Charlie Watts Matters foi escrito por Mike Edison, não por coincidência também baterista.
*Brian
Brian Jones (1942-1969) foi o fundador e autodeclarado primeiro lider dos Rolling Stones até ser engolido pela parceria Jagger-Richards e se afundar nas drogas.
Músico de talento espontâneo, era capaz de aprender a tocar qualquer instrumento em poucas horas – e até se arriscar a registrar a novidade em disco, como no caso da cítara de "Paint It Black".
Porém, sua personalidade era insuportável e pouco confiável. E só piorou com o excesso de drogas que foram determinantes em sua decadência física precoce. Em 1969, foi expulso dos Stones e, dias depois, encontrado morto afogado na piscina de sua mansão.
Sympathy for the Devil: The Birth of the Rolling Stones and the Death of Brian Jones (também encontrado sob o título Brian Jones: The Making of the Rolling Stones) foi lançado em 2015 e busca um justo retrato do papel do guitarrista no sucesso da banda.
O autor é Paul Trynka, que também fez o ótimo Open Up And Bleed: A Vida e a Música de Iggy Pop.
*Mulheres
Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones, de Elizabeth Winder, saiu em 2023 para contar as histórias das principais mulheres que tiveram relacionamentos com os rapazes da banda, com destaque no subtítulo para as da virada da década de 1960 para a de 1970.
Essa obra vem se juntar ao relato mais aberto e, às vezes, brutal sobre o que é ser uma consorte de um rolling stone. A cantora Marianne Faithfull não faz rodeios em Faithfull: An Autobiography, escrito em parceria com o jornalista David Dalton e publicado em 1994.
Hoje uma cantora com reputação sólida, Marianne era vista apenas como "a namorada de Mick Jagger" entre 1967 e 1969. Antes, tinha transado com Brian Jones e Keith Richards, mas confessou que Jagger era "a melhor aposta".
Marianne tem muito a contar. De mergulhar nas drogas e tentar suicídio quando sentiu que estava perdendo Jagger até ver sua composição "Sister Morphine" ser gravada pelos Stones com o acréscimo nos créditos dos nomes de Jagger e Richards.
*Brasil
Já era difícil de encontrar em 2000, quando foi publicado pela editora Ampersand. Hoje, Os Rolling Stones no Brasil: Do Descobrimento à Conquista (1968-1999), do pesquisador brasileiro Nelio Rodrigues, requer do interessado algum garimpo.
Mas é um livro saboroso e cheio de fotos interessantes das passagens dos Stones, a trabalho ou em férias, por nosso país.
A parte mais interessante é a da vinda de Mick Jagger e Keith Richards em 1968, durante a qual foram compostos clássicos absolutos como "Sympathy for the Devil", "Honky Tonk Women" e "You Can't Always Get What You Want".
Nelio também é co-autor de Sexo, Drogas e Rolling Stones (2008), em parceria com o jornalista José Emílio Rondeau.
*Drogas
O consumo de drogas e os problemas que elas causaram são fundamentais num certo período da história dos Stones. E um relato diretamente ligado a isso foi lançado recentemente no Brasil: Eu Fui Traficante do Keith Richards, de Tony Sanchez, saiu pela Editora Sapopemba.
É um clássico entre os livros secundários sobre os Stones. Saiu originalmente em 1979 com o título Up and Down with the Rolling Stones: The Inside Story. Depois seria reeditado com outros títulos, inclusive I Was Keith Richards' Drug Dealer.
Fotógrafo de profissão e apelidado de Spanish Tony, o autor desempenhou o papel de facilitador do acesso de Keith às drogas. O guitarrista segue vivo, mas Tony morreu em 2000.
Keith achava que o livro era bem escrito demais para ser de Tony. Talvez tenha sido aí que ele tenha tomado conhecimento da figura do ghost writer…
*Músicas
The Rolling Stones: All the Songs – The Story Behind Every Track é um ótimo volume dos franceses Philippe Margotin e Jean-Michel Guesdon com a história de cada faixa gravada pela banda desde 1963 até a publicação em 2022.
A obra traz detalhes de como cada música foi composta, que instrumentos foram usados, quem tocou ou deixou de tocar, convidados especiais e muito mais. A organização é álbum a álbum. Vale a pena ler e botar o disco para ser ouvido junto.
*Altamont
O trágico show gratuito dos Stones no autódromo de Altamont, na região de San Francisco, Califórnia (EUA), em dezembro de 1969 ficou marcado com o rótulo de "o fim do sonho dos anos 1960".
Além de três mortes acidentais, o show teve o assassinato por esfaqueamento do negro Meredith Hunter por motoqueiros dos Hell's Angels, que supostamente deveriam fazer a segurança do espetáculo.
Os golpes fatais em Meredith Hunter foram registrados no filme Gimme Shelter (1970), amplificando o efeito que o crime teve sobre todo o ideal de paz e amor dos hippies que vigorava na época.
A história desse desastre está bem registrada em livros como Altamont: The Rolling Stones, the Hells Angels, and the Inside Story of Rock's Darkest Day, de Joel Selvin, Let It Bleed: The Rolling Stones, Altamont, and the End of the Sixties, de Ethan A. Russell, e Just a Shot Away: Peace, Love, and Tragedy with the Rolling Stones at Altamont, de Saul Austerlitz.
*1972
Foi em 1972 que os Stones lançaram uma de suas obras-primas (o álbum Exile on Main St.) e fizeram uma turnê triunfal pelos EUA, que levou a banda a ser abraçada por socialites americanos e gerou inúmeros folclores para a história do rock – além do proibidíssimo filme Cocksucker Blues.
A turnê foi bem registrada pelo jornalista Robert Greenfield no livro S.T.P.: A Journey Through America with the Rolling Stones, originalmente publicado em 1974.
Há também o livro de fotos Rolling Stones 1972, do fotógrafo Jim Marshall com textos de Joel Selvin, lançado em 2012 e reeditado em comemoração dos 50 anos da turnê em 2022.
*Fotos
O fotógrafo inglês Gered Mankowitz trabalhou para os Rolling Stones de 1965 a 1967. Era praticamente um membro da banda, segundo o empresário Andrew Loog Oldham, de tanto que não desgrudava dos músicos.
Acabou sendo autor das fotos das capas dos LPs Out of Our Heads (1965) e Between the Buttons (1967).
Com vasto material registrado, Gered já lançou vários livros com suas imagens dos Stones. Destaque para o mais recente, lançado em 2024, The Rolling Stones: Rare and Unseen, com fotos saídas de negativos recém-descobertos.
Goin' Home with the Rolling Stones '66 também tem imagens fascinantes de Mankowitz.
*Empresários
Hoje o business está muito diferente. Mas, nos anos 1960, o papel de empresário dos Stones merecia destaque na imprensa especializada. O primeiro foi Andrew Loog Oldham, que lançou suas memórias de seu período com a banda (1963-1967) em Stoned, de 1998.
Ele ainda persistiria em mais duas obras: 2Stoned (2001) e Rolling Stoned (2011).
Oldham trabalhou para a empresa de Brian Epstein que gerenciava os Beatles. Logo "descobriu" os Stones e conseguiu convencê-los a se tornar o empresário da banda. Tinha apenas 19 anos.
Petulante, um pouco picareta, especialista em (auto)promoção, Oldham criou o slogan "Você deixaria sua filha se casar com um rolling stone?" para fixar uma imagem anti-bons moços.
Também assumiu o papel de produtor dos discos, embora entendesse patavina sobre um estúdio de música. E era metido a rabiscar textos para as contracapas dos LPs achando que era Anthony Burgess escrevendo Laranja Mecânica.
Quando os Stones se cansaram das desventuras com Oldham, logo se associaram ao americano Allen Klein (1931-2009), famoso por obter melhores contratos e direitos autorais para seus artistas.
Porém, Klein era cheio de truques em proveito próprio e também contribuiria para o fim dos Beatles quando se associou ao quarteto de Liverpool em 1969.
Com os Stones, ele conseguiu puxar o tapete e ficar com os direitos de tudo que a banda gravou de 1963 a 1969 para sua empresa Abkco. Por décadas, o grupo não pode utilizar em suas coletâneas as faixas gravadas nesse período.
A biografia Allen Klein: The Man Who Bailed Out the Beatles, Made the Stones, and Transformed Rock & Roll (2016), de Fred Goodman, relembra a saga desse personagem sinistro da história do rock. E dos Stones.