Cartilhas de aprendizado musical
Livros e uma coleção de fascículos que me foram valiosos para saber sobre música
Tenho alguns livros que considero minhas cartilhas de aprendizado sobre música, que funcionaram como Caminho Suave, aquela antiga cartilha de alfabetização com que os alunos da 1ª Série conviviam (como não tenho filhos, não faço ideia do que é usado hoje em dia).
Desses tais livros, há em comum o fato de que me serviram para expandir meu conhecimento sobre rock e música pop na entrada da adolescência.
Com o passar dos anos, ao ler outras obras mais amplas e incrementadas, esses livros “de base” ficaram para trás. Mas reconheço a importância que tiveram naquela época.
Um que lembro nitidamente como minha introdução à história do rock foi Rock: O Grito e o Mito, de Roberto Muggiati (1937-). A publicação original era de 1973 pela Editora Vozes, mas eu tinha uma reedição lançada por volta de 1980 ou 1981.
Muggiati, jornalista e crĩtico (principalmente de jazz, mas não só) que passou muitos anos na revista Manchete, fez um bom panorama do rock desde seus primórdios até a época dessa segunda edição, que inclui o punk e cita bastante os Ramones.
Desde minha última mudança de endereço, não faço ideia de onde está ainda encaixotado meu Rock: O Grito e o Mito. Agora que lembrei dele, até gostaria de dar uma folheada com meus olhos de 2025.
Outro que teve o mesmo papel de iniciação foi O Que É Punk, do jornalista, escritor e dramaturgo Antonio Bivar (1939-2020). Foi publicado em 1982 na “Coleção Primeiros Passos” da Editora Brasiliense.
O interessante no livro de Bivar é que, além de contar a história do punk rock, especialmente o inglês capitaneado por Sex Pistols e The Clash, ele lançava um olhar sobre o incipiente punk paulista, que tinha bandas como Inocentes, Olho Seco e Cólera.
O livrinho de bolso até foi lançado na mesma época do histórico festival punk O Começo do Fim do Mundo, realizado no Sesc Pompeia, em São Paulo, em novembro de 1982. Bivar foi um dos fundadores do evento.
Assim, Bivar escreveu um breve retrato do punk nacional que merece ser consultado. Mas, quanto aos estrangeiros, não tem como competir com a excelência de England’s Dreaming, a bíblia do punk inglês escrita por Jon Savage (1953-).
Já um livro no qual botei as mãos em 1983 ainda pode ser consultado e relido atualmente: A Balada de John & Yoko, uma compilação de textos republicados e outros feitos especialmente para esta obra com organização dos editores da revista americana Rolling Stone.
Além de me dar informações preciosas que eu ainda não conhecia sobre John Lennon (1940-1980) e traçar sua trajetória nos Beatles, na carreira solo e no sabático de cinco anos que ele tirou para viver com Yoko Ono (1933-) e o filho Sean Ono Lennon (1975-), o livro me foi muito útil para aprender a escrever sobre mũsica.
Foi A Balada de John & Yoko que me abriu os olhos para análise de letras, conexões e contextualizações e também como escrever sobre música com estilo.
Não vou dizer que aprendi a fazer tudo isso com 15 ou 16 anos. Mas aproveitei muito disso nesses mais de 40 anos. E acho que ainda aproveito.
Finalmente, há um caso ímpar que não é exatamente um livro. É uma enciclopédia que não dá para encadernar porque cada fascículo contém um mini-LP de 10 polegadas.
Estou falando da coleção Nova História da Música Popular Brasileira, publicada pela Abril Cultural a partir de 1977. Foi ela que me ensinou muito do que sei sobre MPB, seus maiores compositores e as histórias (e composições) deles.
A “Nova História…” era uma versão revista e bastante ampliada da coleção “História da Música Popular Brasileira”, publicada pela mesma Abril Cultural a partir de 1970.
Os textos me informaram mais sobre Chico Buarque (1944-), Caetano Veloso (1942-), Gilberto Gil (1942-), Milton Nascimento (1942-), Raul Seixas (1945-1989), Rita Lee (1947-2023) e outros que estavam em voga naquela época e eu já sabia quem eram.
E me apresentaram a Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Noel Rosa (1910-1937), Pixinguinha (1897-1933), Luiz Gonzaga (1912-1989), Jackson do Pandeiro (1919-1982), Lamartine Babo (1904-1963), João de Barro (o Braguinha, 1907-2006), Assis Valente (1911-1958), Jacob do Bandolim (1918-1969), Monsueto (1924-1973), Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911-1986), bossa nova, Mutantes, Hermeto Pascoal (1936-) e tantos outros nomes de respeito de nossa música.
Felizmente, todos os fascículos desta coleção foram parar em casa. Eu era feliz e começava a saber.
Teve inclusive uma reedição bonitona em 2018, agora chamado só "Punk". Saiu pelas Edições Barbatana. https://www.edicoesbarbatana.com.br/pd-597b7a
Eu jamais imaginei que essa série "O que é..." tinha um sobre o punk.